Notícia: Pais travam batalha com escolas por desconto nas mensalidades durante a pandemia

Coronavírus: Pais travam batalha com escolas por desconto nas mensalidades

A empresária Adriana Silva, de 44 anos, tem dois filhos em escola da rede particular. A corretora de seguros Karymi Maluf, de 54, tem um. As escolas são diferentes, mas o drama é o mesmo. As duas viram a renda cair mais de 90% e brigam por um desconto linear. Diante da negativa, elas já se preparam para conseguir a redução preço na Justiça.

“As aulas online não são a mesma coisa do que as presenciais. Além disso, a carga horária caiu cerca de 50%. Minha filha tinha de sete a oito aulas por dia, agora tem de três a quatro. Nós organizamos um grupo de pais e pedimos um desconto até menor, de 30%, mas a escola está irredutível. Disse que está aberta para avaliar caso a caso, mas não vai dar desconto para todos”, conta Adriana.

Os filhos dela estudam na unidade de Contagem do Santo Agostinho. “Até a declaração do Imposto de Renda eles pediram para avaliar o pedido de desconto. Mas essa declaração mostra a realidade do ano passado. Hoje, eu tenho como provar que a receita da minha empresa, que é de transportes, caiu 95%”, reclama Adriana. Na ação judicial, ela alega quebra de contrato. “Eu não contratei ensino a distância”, pondera.

A gestora de relações humanas da Sociedade Inteligência e Coração (SIC), mantenedora dos Colégios Santo Agostinho, Fernanda Fernandes, afirma que a rede está aberta a acolher as famílias e avaliar cada situação, individualmente. No entanto, ela não vê justificativa para desconto linear. “Nós estamos cumprindo o contrato; apesar de estarmos entregando em um formato diferente, nós estamos entregando o conteúdo integral”, explica Fernanda.

Karymi tem um filho no ensino médio do Colégio Sagrado Coração de Jesus. “Montamos um grupo com mais de cem pais. Em abril, a escola recebeu uma comissão, que apresentou um pedido de desconto de 30%. Eles ficaram de analisar e, depois, nos apresentaram uma planilha com os números da escola e falaram que só avaliariam caso a caso”, lamenta.

A corretora pondera ainda a discrepância da qualidade entre o que foi contratado e o que tem sido entregue. “As turmas presenciais tinham uma média de 30 alunos. Agora, nas aulas online, eles juntam três turmas. Como é que um professor consegue tirar dúvidas de 90 alunos?”, questiona Karymi.

Por meio de nota, o colégio destaca que não se furtou, em momento algum, a estar aberto à negociação, mas explica que estudos mostraram que era impossível conceder um desconto linear.

“A maior parte das nossas despesas refere-se à folha de pagamento. A água, a energia e os materiais de consumo não chegam a 3% das despesas. Independentemente disso, abrimos ao diálogo e fizemos uma análise da situação de cada família que nos pleiteou o desconto, concedendo o que era possível, dentro da realidade da escola”, diz a nota.

Segundo o colégio, das famílias que pleitearam descontos, 80% já foram atendidas, recebendo uma redução no valor da parcela.

Inadimplência

Assim como a composição de preços das mensalidades, as escolas têm liberdade para dar descontos. “Cada unidade trabalha com sua realidade, pois cada uma tem um custo”, destaca a presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Zuleica Ávila. Segundo ela, a situação está complicada para o setor, pois a inadimplência supera os 40%.

Zuleica lembra que, assim como os pais, as unidades também tiveram grandes impactos, como aumento de custos de instalação de plataformas digitais.

A sindicalista ressalta que, em Minas, nenhuma escola reduziu o salário dos professores. Embora o governo federal tenha aberto esse precedente, uma liminar do sindicato conseguiu proibir essa medida.

A preocupação é maior com as instituições que trabalham com ensino infantil. “Tem escola que já teve quase 60% dos contratos cancelados”, comenta. A opção de cancelar a matrícula e deixar a criança sem escola só é viável para alunos de até 3 anos.

Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a partir dos 4 anos é obrigatório estar matriculado.


Fonte da matéria: https://www.otempo.com.br/coronavirus/coronavirus-pais-travam-batalha-com-escolas-por-desconto-nas-mensalidades-1.2337948